Capítulo V
AGRESSÃO
Para compreendermos a natureza dos nossos instintos agressivos, temos de encará-los segundo a nossa origem animal. A nossa espécie está atualmente tão preocupada com a violência e com a destruição em massa, que somos capazes de perder objetividade ao discutir esse assunto. Ê um fato comprovado que os intelectuais mais sensatos se tornam muitas vezes violentamente agressivos quando discutem a necessidade urgente de suprimir a agressão. O fato não surpreende. Para dizer as coisas de uma maneira delicada, atravessamos uma grande confusão, e é muito possível que no fim deste século tenhamos acabado por nos exterminar completamente. A única consolação que nos resta será a de que a nossa espécie conseguiu se manter durante um período excitante. Embora este não tenha sido longo, em termos biológicos, foi sem dúvida um período espantosamente cheio de acontecimentos. Mas, antes de examinarmos os nossos bizarros aperfeiçoamentos no ataque e na defesa, temos de examinar a natureza básica da violência no mundo dos animais, onde não há lanças, nem espingardas, nem bombas.
Os animais lutam entre si por uma das duas seguintes e boas razões: ou para estabelecer domínio numa hierarquia social, ou para estabelecer os respectivos direitos territoriais em determinado terreno. Algumas espécies são puramente hierárquicas, sem territórios fixos. Outras são puramente territoriais, sem problemas hierárquicos. Outras mantêm hierarquias nos seus territórios e têm de encarar ambas as formas de agressão. Pertencemos ao último grupo: temos os dois problemas. Como primatas que somos, já tínhamos o sistema hierárquico às costas. Este é, de fato, o modo de vida básico entre os prima-tas. O grupo passa a vida a deslocar-se, e só raramente se fixa durante bastante tempo num território. Podem surgir conflitos entre grupos, mas sempre fracamente organizados, esporádicos e relativamente pouco importantes para a vida do macaco comum. A "ordem das bicadas" (assim chamada porque foi inicialmente discutida a respeito dos galos, que dominam o galinheiro e chamam à ordem os recalcitrantes por meio de bicadas) tem, pelo contrário, significado vital no dia-a-dia — e mesmo no hora-a-hora — dos macacos. Existe uma rígida hierarquia socialmente estabelecida entre quase todas as espécies de macacos e símios, com um macho dominante encarregado do grupo, e os outros alinhados sob ele, segundo graus de subordinação variados. Quando o chefe se torna demasiadamente velho ou fraco para dominar, é derrubado por um macho mais novo e mais forte, que passa a assumir a chefia do grupo. {Em alguns casos, o usurpador adquire mesmo um manto simbólico, formado por uma capa de longos pêlos.) Como o bando se mantém sempre junto, o papel do chefe despótico é permanentemente eficaz. Mas, apesar disso, ele é invariavelmente o macaco mais polido, mais elegante e mais sexy de toda a comunidade.
Nem todas as espécies primatas têm uma organização social violentamente ditatorial. Existe quase sempre um tirano, mas este é muitas vezes benevolente e bastante tolerante, como acontece por exemplo entre os fortíssimos gorilas. O chefe distribui as fêmeas, entre os machos inferiores, é generoso à hora da comida e só se impõe quando surge inesperadamente alguma coisa que não pode ser partilhada, quando há sinais de revolta, ou quando os membros mais fracos começam a lutar desregradamente.-Continua.............
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