lunedì 10 settembre 2007

Crianças-soldados no Brasil

Brasil, um caso particular

Entre várias informações, é necessário destacar que, pela primeira vez, a problemática das crianças e jovens em violência armada organizada no Rio de Janeiro, Brasil, figura em um documento de natureza internacional.

Ilona Szabó de Carvalho, representante da Coalizão, através da Coav (sigla em inglês para Crianças e Jovens em Violência Armada Organizada), afirma que, ao ser reconhecido, o problema enfrentado pelas crianças relacionadas ao tráfico de drogas ganha uma dimensão maior e um outro tratamento.

"A situação das crianças em violência armada no Rio de Janeiro é muito semelhante às condições de guerra, que são as piores condições. Essa é a primeira vez que se reconhece, num documento internacional, essa questão, o que sem dúvida é um avanço para todos que trabalhamos na área", afirmou Ilona.

Um estudo elaborado pelo coordenador da Coav, Luke Thomas Dowdney, estima que 50% das pessoas que compõem as facções, que caracterizam o sistema do tráfico, têm menos de 18 anos. Uma realidade na qual a participação no crime começa muito cedo, aos 10 ou 11 anos de idade e se estende até a fase jovem e adulta.

Assim como em situações de guerra, as crianças brasileiras recebem atribuições específicas dentro da violência armada. "No Brasil, o recrutamento e a utilização de crianças por facções urbanas de narcotraficantes teriam grandes semelhanças com as práticas seguidas nesse sentido pro grupos de oposição armada", afirma o Informe, ressaltando que, no período 2001-2004, se calculava que, pelo menos, que 5.000 crianças teriam participação na violência armada organizada no Rio de Janeiro.



Elizabeth Bishop é uma das maiores poetas americanas dos últimos cem anos. Entre muitos detalhes fascinantes da sua vida está o fato que ela viveu no Brasil por muitos anos, e aqui produziu poemas que são considerados obras primas. Bishop viu, com os olhos de quem acaba de chegar, e de quem tem um investimento humano no que vê, e produziu poemas cheios de compaixão, perplexidade, e amor pelas coisas e pessoas que conheceu no Brasil. Mas, acima de tudo, produziu poemas de qualidade. Aqui coloco um de seus poemas escritos quando morou no Rio de Janeiro, “The Burglar of Babylon” (“O ladrão da Babilônia”), que aparece no livro “Questions of Travels,” publicado em 1965.[1]

Nos lindos morros verdes do Rio

Cresce uma mancha assustadora:

Os pobres que vêm ao Rio

E não podem mais voltar pra casa.

Nos morros um milhão de pessoas,

Um milhão de pardais, fazem seu ninho,

Como uma confusa migração

Que não tem luz nem descanso,

Construindo seus ninhos, ou casas,

Feitos de nada, nada, ou de ar,

Você pensaria que um sopro os destruiria,

Eles pousam tão precários no morro.

Mas eles se agarram e se espalham como musgo,

E as pessoas continuam vindo, e vindo.

Tem um morro chamado Galinha,

E um chamado Catacumba;

Tem o morro da Querosene,

E o morro do Esqueleto,

E o morro do Espanto

E o morro da Babilônia.

Micuçú era ladrão e assassino,

Um inimigo da sociedade,

Ele tinha escapado três vezes

Da pior penitenciária.

Eles não sabiam quantos ele tinha morto

(embora digam que nunca violentou),

Ele feriu dois policiais

Esta última vez que escapou.

Eles disseram, “Ele vai ver sua tia,

Que o criou como um filho,

Ela tem uma lojinha

No morro da Babilônia.”

Ele foi, sim, direto, procurar a tia,

E ele tomou sua última cerveja.

Ele lhe disse, “Os soltados estão chegando,

Eu tenho que desaparecer.”

“Eles me deram noventa anos.

Quem quer tanto tempo viver?

Eu prefiro noventa horas

No morro da Babilônia.

“Não diga a ninguém que você me viu.

Eu vou correr enquanto puder.

Você foi boa para mim, eu amo você,

Mas eu sou um condenado a morrer.”

Ao sair, ele encontrou uma mulata,

Levando água na cabeça,

“Se você disser que me viu,

Você está morta, minha filha.”

Existem cavernas lá no alto, esconderijos,

E um velho forte, caindo aos pedaços.

Antes, se vigiavam os franceses

Lá do morro da Babilônia.

Abaixo dele estava o oceano

Que chegava até o céu,

Plano como uma parede, e nele,

Se viam os navios cargueiros, passando,

Ou subindo a parede, subindo

Até que cada um parecia uma mosca,

E depois caíam e desapareciam;

E ele sabia que ia morrer.

Ele podia ouvir os bodes, Bée! Bée!

E escutava o choro dos bebês;

Pipas trêmulas subiam, lutando contra o vento;

E ele sabia que ia morrer.

Um urubu bateu as asas perto dele

Ele podia ver seu pescoço pelado.

Ele abanou as mãos e gritou,

“Ainda não, meu filho, ainda não!”

Um helicóptero do exército

Veio voando, voando, chegando perto.

Ele podia ver os dois homens dentro,

Mas eles nunca o viram.

Os soldados estavam por todo lado,

Em todas as encostas do morro,

E encostados na linha do céu

Uma fila deles, pequenos e parados.

As crianças olhavam pelas janelas,

E os homens no boteco juravam,

E cuspiam um pouco de cachaça,

Nas frestas do assoalho.

Mas os soldados estavam nervosos,

Mesmo com armas na mão,

E um deles, em pânico,

Atirou num oficial comandante.

Ele o feriu em três lugares;

Os outros tiros foram desgovernados.

O soldado ficou histérico

E chorava como uma criancinha.

O moribundo disse, “Terminem

O trabalho que nos trouxe aqui.”

Ele entregou sua alma a Deus,

E seus filhos ao governador,

Eles correram e trouxeram um padre,

E ele morreu na esperança do céu

- Um homem de Pernambuco,

O caçula de onze irmãos.

Eles queriam parar a busca,

Mas o exército disse, “Não, vão em frente,”

Então os soldados subiram de novo

O morro da Babilônia.

Os ricos em apartamentos

Assistiam com seus binóculos

Enquanto havia luz do sol,

E a noite inteira, debaixo das estrelas,

Micuçú se escondia no capim

Ou se sentava em uma arvorezinha,

Escutando os sons, e olhando

O farol no mar ao longe.

E o farol olhava para ele, também

Até que chegou a manhã.

Ele estava molhado de orvalho, e com fome,

No morro da Babilônia.

O sol amarelo era feio,

Como um ovo cru num prato –

Molhado pelo mar. Ele o amaldiçoou,

Porque ele sabia que ele selava sua sorte.

Ele viu as longas praias brancas

E as pessoas indo nadar,

Com toalhas e sombrinhas de praia,

Mas os soldados o perseguiam.

Longe, lá longe, as pessoas

Eram pontinhos coloridos,

E a cabeça dos que nadavam

Eram cocos flutuantes.

Ele ouviu o vendedor de amendoim

Fazer peep-peep com seu assovio,

E o homem que vende sombrinhas

Sacudindo seu chacoalho de guarda.

As mulheres com cestas de compra

Paravam nas esquinas a conversar,

Depois elas iam para o mercado,

Olhando pra cima ao caminhar.

Os ricos com seus binóculos

Estavam de volta, e muitos

Tinham subido nos telhados,

Entre as antenas de TV.

Era cedo, oito ou oito e meia.

Ele viu um soldado subir,

E olhar direto para ele. Ele atirou,

E errou pela última vez.

Ele podia escutar o soldado resfolegando,

Mas ele nunca chegou perto,

Micuçú procurou abrigo,

Mas acabou levando um tiro, atrás da orelha.

Ele escutou bebês chorando

Longe, longe, dentro de sua cabeça,

E os vira-latas latindo, latindo

E então Micuçú estava morto.

Ele tinha um revólver Taurus

E as roupas do corpo,

Com dois contos nos bolsos,

No morro da Babilônia.

A polícia e a população,

Deram um suspiro de alívio,

Mas detrás do balcão sua tia

Enxugava os olhos com tristeza.

“Nós sempre fomos respeitados.

Minha loja é honesta e limpa.

Eu amava o menino, mas desde bebê

Micuçú era mau.

“Nós sempre fomos respeitados.

Sua irmã tem um emprego.

Nós duas lhe dávamos dinheiro.

Por que ele tinha que roubar?

“Eu o criei pra ser honesto,

Mesmo aqui, na favela da Babilônia.”

Os fregueses tomaram outra,

Todos com cara séria e triste.

Mas um disse ao outro,

Do lado de fora da porta,

“Ele não era lá um grande ladrão,

Foi pego seis vezes – ou mais.”

Esta manhã os soldadinhos

Estão no morro da Babilônia de novo;

Suas cartucheiras e capacetes

Brilham no chuvisqueiro.

Micuçú está enterrado.

Eles estão atrás de outros dois,

Mas eles dizem que não são tão perigosos

Como o pobre Micuçú.

Nos morros verdes do Rio

Cresce uma mancha assustadora:

Os pobres que vêm ao Rio

E não podem mais voltar pra casa.

Tem o morro da Querosene,

E o morro do Esqueleto,

E o morro do Espanto,

E o morro da Babilônia

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