mercoledì 6 ottobre 2010

Eu nao achei nada banal este raciocinio do Paulo Brabo.Muito bem pensado...

05 de Outubro de 2010

A dessacralização do banal

Depositado por Paulo Brabo


Estocado em Sociedade

Dizem-me que o que há de mau nas grandes redes sociais da internet é o esvaziamento da privacidade, a glorificação do instantâneo, a alienação da realidade e a pulverização da atenção que deveria ser dedicada a questões e a gente de carne e osso. A esses costumo lembrar que nenhuma dessas tendências foi gerada pelas redes sociais, e nenhuma é de posse exclusiva delas.

De minha parte, não tenho ilusões de privacidade, como não deveria ter nenhum temerário colonizador da internet. Também não me escandaliza ver exposto publicamente aquilo que se convencionou chamar de “pessoal” – já que tudo que houver digno de ser apreciado, de qualquer autor e em qualquer meio, será invariavelmente de natureza confessional.

O que me incomoda em abominações como o twitter e infelicidades como o orkut não é a glorificação da banalidade, mas precisamente o oposto: a dessacralização do banal.

Há algo de sagrado no banal, em se contar como foi a noite de sono e observar que alguma coisa não desceu bem no café da manhã. Sou antiquado o bastante para crer que o banal pertence a esse âmbito sagrado e interdito, e que dividi-lo com todos (ou seja, com ninguém) equivale a despi-lo de sua precária beleza. É coisa justa e boa que o conferencista apresente as convicções do seu coração, aquilo que toma por absolutamente vital e verdadeiro, diante de uma multidão cambiante e anônima; já a pequena confissão, a dor nas costas, o preço do remédio e o desconforto com os sapatos, justamente por sua sacra banalidade, devem permanecer reservados para algum círculo mais interno – o cônjuge, o amigo, os filhos, o ascensorista. O estadista deve reclamar da vida com o porteiro e o açougueiro que nunca ri deve brincar com o filho diante do besouro vira-bosta, mas essas são liturgias a serem desempenhadas em pequeno, no um a um. Esse recato não se destina, bem entendido, a preservar imaculada alguma imagem ilusória, mas precisamente o contrário: porque só se escapa da ilusão da máscara pública (e na internet somos todos figuras públicas) mantendo sagrado e interdito o diminuto círculo de controle da vida real, em que o que existe somos só nós mesmos, o outro e as pequenas coisas.

Releio esta nota e me ocorre o inevitável: que se trata de reflexão tão banal que deveria ter ficado só para mim.

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